CONTOS

MINHA NOVA VIDA


Eu acordei de um lugar tão tenebroso que não sei como explicar... Era como se lá onde eu estava fosse sempre noite sem lua, sem estrelas, sem luz. Apenas uma existência fria. Eu ouvia tudo, mas não conseguia mover-me... Porque tudo doía. Não existia um lugar se quer no meu corpo que fosse sem dor. Ouvia vozes misturadas incompreensíveis.... Um cheiro insuportável que me causava náuseas... Então... Como se tivessem aberto a caixa onde eu talvez estivesse... Ouvi a voz DELE que dizia:

- Meu bem! Acorda. Estou aqui amor. Olha pra mim amor.


Eu abri os olhos devagar porque a claridade era infinitamente cortante. E como em um passe de mágica , eu me vi na frente de uma cachoeira... O som era ensurdecedor... Mas o cheiro era delicioso. E que deliciosa surpresa!! Eu pude ver o meu Elfo... Oh Deus! Ele estava ali me recepcionando. Meu Elfo que a muitos anos eu não via. Eu pensava que ele tivesse me abandonado. Ele estava maravilhoso como sempre e flutuando sobre as águas das quedas da cachoeira e eu chorei. Foi o dia mais feliz da minha existência. Ele sorria e fazia piruetas no ar. Ele estava com mais outros elfos coloridos ao seu lado. Elfos que eu não conhecia, nunca tinha visto. Afinal ele era o único que eu via. Sem contar uma Elfinha do tamanho da minha mão que eu vi um dia entre os livros do meu pai. Ela disse que veio me avisar de um grande perigo que iria me acontecer. Quando isso ocorreu eu devia estar com treze anos e foi a única vez que a vi. Nesse tempo eu já conhecia meu Elfo! Ele sempre me salvava das encrencas em que eu me enfiava. Voltando ao assunto:  Os Elfos que circulavam em tono do meu Elfo eram nas cores Azul, vermelho, verde, lilás, laranja e matizados . Eram tão encantadores. Eu não sabia seus nomes, os identificava pela cor de seus cabelos. Apenas um deles tinha o cabelo curto, Bem curto não, mas em vista dos outros, posso chamar de curto. Era um pouco abaixo dos ombros. Eles se comunicavam com uma espécie  de zum zuns... Eu não compreendia nada, mas era como se eu estivesse entendendo tudo. Acho que colocavam na minha mente o que queriam que eu entendesse. Depois me fizeram dormir. Ainda doía todo meu corpo. E por muitos e muitos dias eu senti dores infernais. Mas eu suportava, para não deixar ELE preocupado...


Com o passar dos dias eu fui conhecendo meus novos amigos elfos.
Eles eram seres passionais com comportamento e pensamentos intensos. O que eles ouviam de mim fazia uma conexão direta entre seus corações – mentes e corpos. Ah!! E eles diziam o que realmente pensavam e não hesitavam em agir quando para eles estavam fazendo a coisa certa. Eles preferiam pedir perdão a pedir permissão para o que quer que fosse. Vestiam-se com tecidos leves, esvoaçantes, que não tolhiam seus ágeis movimentos. Geralmente verde e marrom, para camuflarem-se ao ambiente, porque eles preferem ver os seres antes de serem vistos. Mas quando queriam estar vestidos com garbo; usavam roupas nas cores branco ou azul bem clarinho. Possuíam tatuagens em suas peles como arte e como símbolo de status. Alguns deles, os que lidavam com perigo usavam as tatuagens como camuflagem. Elas eram tatuadas estrategicamente para que ao vê-los os seres indesejados se assustassem ou que visse um outro ser muito perigoso.  meus amigos Elfos, não eram os seres isolados e escondidos que muitos pensam. Os Elvins vivem entre nós, só que em outra dimensão e só se deixam ver quando acham necessário. Porque eles valorizam muito as suas privacidades. Seu mundo, sua casa e seus corpos como algo sagrado e protegem-nas a qualquer custo. 
Os Elfos mantém contato com humanos diariamente, principalmente em Hospitais, em acidentes de trânsito, afogamentos, quedas de aviões etc; Os elfos e os humanos têm aprendido a conviver, mesmo que às vezes se desentendam... Porque os Elfos não compreendem como os humanos podem ser tão mesquinhos e ciumentos. Os elfos da floresta são sobreviventes! Eles confiam na sabedoria da natureza e seguem os seus instintos. Mantendo-se neutros na luta entre o bem e o mal.


Num desses dias aterradores em que eu sentia muitas dores. Eu estava orando para que eu deixasse de existir bem rápido, porque já não aguentava mais suportar tanta dor... Foi quando minha irmã que tinha uma enfermidade rara e terminal, entrou no quarto sorrindo e cantando uma canção do Chico Buarque. Aquilo era tão estranho... Eu me lembrava nitidamente de que tinha ido ao hospital para ficar com ela, porque estava em seus últimos dias... Agora ela estava ali diante de mim, tão viçosa com seu sorrisão contagiante... Aquilo era realmente incrível! Agora eu sentia dores insuportáveis e ela estava bem. Sorrindo e cantando. Tinha os olhos brilhantes como se tivesse ganho um grande e esperado presente. Estava bem magrinha ainda, mas viçosa e disposta. Chegou à beira da cama e solícita me perguntou se eu queria alguma coisa. Como se saísse de um pesadelo eu pensei:

- Será que invertemos as posições? Eu pedi tanto ao Criador que passasse aquela dor dela para mim que ele me atendeu? Gratidão Senhor! Minha irmãzinha está bem!Isso é maravilhoso.

Tudo era muito confuso ainda! Eu disse  a ela que não precisava de nada para não deixá-la preocupada ela sorriu e foi abrir as janelas... Eu pedi que não abrisse as janelas! A claridade era insuportável. Minha irmã assentiu e saiu cantando baixinho dessa vez. Eu ficava o tempo todo na escuridão dentro do quarto. E pasmem. Na casa da minha irmã.  Eu tinha ido pra lá cuidar dela e agora eu precisava dos cuidados dela... Era muito constrangedor. Eu não conseguia nem ir ao Banheiro sozinha. Mas não reclamava com o Criador, porque eu havia pedido a troca e aceitei de bom agrado. Com o passar dos dias eu percebi que eu não podia comer nada. Qualquer coisa que eu tentasse ingerir eu regurgitava, até mesmo a água... E ficava pensando como eu estava "vivendo" sem comer? E pior , sem beber água. Foi quando eu dei um grito bem forte saído de dentro de mim. Sabe como? Não foi um grito propriamente saído da boca. Foi como se eu tivesse gritado em pensamentos. E como num passe de mágica; surgiu no meu quarto um Elfo! "O meu Elfo"! Aquele que conheci quando ainda era uma menina e morava na Índia. Parecia que saiu da parede ao lado da cama e estava nu em pelo. Bem... (Em pelo não, rsrsr Elfos não possuem pelos pubianos, são lisinhos como bebes). Ele sentou-se ao meu lado como se estar nu fosse a coisa mais natural do mundo. Ele tinha os cabelos molhados e uns pedaços de planta aquática grudada no peito. Eu fiquei paralisada sem ação.... Ele chegou bem juntinho de mim e colocou a mão na minha testa como se tivesse vendo a temperatura e franziu o senho. Eu fechei os olhos porque estava com vergonha por ele estar nu e não vi mais o que ele estava fazendo. De repente...  Senti uma ardor na altura da cintura e abri os olhos... "O meu Elfo" havia conectado algo em mim... Pareciam cabos conectores só que vivos... Era como se ele tivesse raízes. Me conectou três delas. Em seguida fechou os olhos e suspendeu a cabeça fazendo um som gostoso de mantra como o "OM". Alguns minutos depois a dor foi aliviando. Era como se eu estivesse flutuando, tão boa foi a sensação de não sentir mais dores.... Mas eu percebi desesperada que ele sentia as dores! Percebi  pelo semblante dele que estava contorcido e os lábios sem cor e serrados. Eu o sacudi chamando-o e tirando-o daquele transe! Ele assustou-se e olhou-me interrogativamente; eu pedi para me desconectar imediatamente. Ele colocou a mão na minha testa novamente e sorriu... Que sorriso lindo tinha o "O meu Elfo"! Deixava aparecer suas pressas fininhas ... Ele desconectou fazendo as "raízes" retrocederem para seu corpo e sumirem... Ardeu muito para desconectar, mas... Me deixando novamente roxa de vergonha ele lambeu as cicatrizes que as raízes fizeram e tudo passou até as cicatrizes sumiram... E ele me fez adormecer... Affh como eles adoravam fazer isso. Era bom por um lado: eu não sentia dores. e ruim por outro. Faziam isso quando eu estava maravilhada com eles.

Depois desse dia que acabei de mencionar em que eu pedi socorro e fui atendida pelo "Meu Elfo". Eu passei a ser alimentada e medicada pelos Elfos. O alimento aparecia ao meu lado em um vasilhame de madeira  com a quantidade de mais ou menos 50 ml. de uma pasta com sabor agradável. Sempre vinha até meu leito um deles que parecia ser o Líder pois o vi várias vezes dando ordens que eram obedecidas imediatamente. Ele possuía o cabelo muito longo que se movia conforme o humor dele. O cabelo e os olhos eram da cor vermelho vivo. Ele era o médico  e entendia de qualquer enfermidade... Para que entenda melhor; era um "Geneticista"! Ele compreendia todo metabolismo do corpo humano, suas funções e suas "mazelas" Eu o chamava de "Vermelhinho". Ele trazia os medicamentos me fazia transfusões. O interessante é que as transfusões não eram transfusões de sangue como em qualquer Hospital, ele fazia transfusão de energia. Ligava seu cabo conector na minha carótida  esquerda, que nasce diretamente da artéria aorta e transfundia sua energia para mim. O que me deixava revigorada por uns três dias. Diversas vezes me levou para um banho de rio de águas mornas e calmas que parecia o colo da minha mãe. Quando eu estava dentro do rio, eu não sentia dor nenhuma. Tudo era paz. A mata era muito fechada e o cheiro de húmus era muito forte e agradável. A respiração fluía tranquila como se eu estivesse no balão de oxigênio. O  "Vermelhinho" Era muito atencioso, mas também muito autoritário e "mandão" A palavra dele era uma ordem que devia ser respeitada e cumprida. Todos os outros (que também falarei com o tempo) o respeitavam e atendiam prontamente. Apenas ELE era malcriado com o ""Vermelhinho (mas afinal, ELE era malcriado com qualquer um.) O "Vermelhinho ficava visivelmente contrariado com ELE mas não dizia nada. O que eu estanhava, mas quem era eu para intervir? 
Eu comecei a me restabelecer devagar, porque sou muito malcriada e algumas coisas eu não fazia (como mascar aquela erva amargosa que era prensada em uma bolinha). Eu escondia debaixo do travesseiro depois enrolava numa toalha de papel e punha no lixo, o que demorou muito mais tempo o meu pronto restabelecimento. Até que um dia o "Vermelhinho chegou pra mim e disse dentro da minha mente! Olhando na minha cara.

- Sol! Vou te pedir uma coisa e exijo que voce me atenda! Todas as vezes que voce joga fora o medicamento que eu deixo aqui para que faças uso, é preciso que eu doe mais uma parte de mim para preparar outro. E com isso, outros seres que precisam desse medicamento e os usa para sobreviver, ficam sem essa parte que voce jogou fora e que eu precisei fazer nova dose, que voce jogou fora novamente, e assim por diante.  Me compreende? São enzimas de eu que não consigo repor tendo que fazer tantos para voce jogar fora. Estou deixando outros seres morrerem por não ter capacidade de produzir tanto. Exijo que voce faça uso devidamente. Compreendeu-me Sol? 

Eu assenti com a cabeça e desejei que ele me fizesse adormecer nessa hora. Mas ele não fez... Me deixou pensando no que ele disse e me sentindo mais lixo do que eu era.....


Foram muitos e muitos os dias em que passamos juntos os Elfos e eu. Mas eu juro por tudo que há de mais sagrado que se eu soubesse da minha verdadeira condição, não teria aceito nenhum sacrifício da parte deles. Principalmente do "Vermelhinho". Simplesmente por eu ser uma casca sem alma, sendo mantida por um espirito alheio. Eu não sabia disso. E os dias foram passando! Eu era mantida dentro de uma bolha que me impedia de ver o mundo exterior, e saber exatamente o que estava acontecendo se eles não quisessem que eu soubesse. Eu só tinha o entendimento do que eles permitiam que eu tivesse. Acontece que enquanto eu estava dentro dessa bolha, o que se passava ao meu redor sobre todos que também estavam dentro dessa bolha eu sabia,! Eu sentia! Eu ouvia!  Fosse o que fosse... Fizessem o que fizessem... Mas não sabia porque  alguém me contavam, eu sabia porque eu podia sentir as sensações. TODAS ELAS. Isso era horrível... Eu podia ver e sentir coisas que me cortava em pedaços mas precisava fingir que estava bem para não magoar ELE porque tudo que eu fizesse por minimo que fosse ELE se dizia magoado e fazia um drama.  
Eu estava completamente debilitada, e  com alguns dos meus órgãos virados e fora do lugar...Eu soube isso por um deles. Uma bela Elfa que lidava com DNA. Ela era geneticista, mas fazia o diagnóstico apossando-se do nosso corpo. Ela realmente mergulhava dentro de mim como uma possessão e tomava todos os meus sentidos. Ela possuía uma beleza excepcional. Era delicada e muito amorosa. Era também um ser assexuado. As reproduções dela não necessitavam de um parceiro. Era um organismo que criava copias de si mesmo. Todos idênticos como se fossem "clones" eu conheci cinco reproduções dela. Ela só reproduziria seres diferentes dela se houvesse mutações. E como ela Harmonizava com ELE não duvido muito que tenha havido uma ou mais dessas mutações. Essa preciosidade com a ajuda de outra Elfa fizeram a cirurgia em meus órgãos colocando-os nos seus devidos lugares e funcionando bem. Foi quando passei a ser medicada e alimentada pelos elfos. Surgia ao meu lado um pequeno vasilhame de madeira com a quantidade equivalente a 50 ml. de uma pasta muito saborosa, que eu ingeria duas vezes por dia. E o medicamento quando não era direto como transfusões corpo a corpo eram bolinhas feitas pelos elfos com ervas medicinais. O que me deixou triste, foi saber que essa Elfa usava os genes retirando nutrientes dela própria para compor o DNA que faltava aos seus pacientes. Quando ela fazia com seres de sua espécie ou afins nada acontecia a ela. no minimo ela precisaria Harmonizar com uma certa rapidez após a medicação e ficava novinha. Mas com seres humanos ela não conseguia repor, Porque no caso teria que harmonizar com seres do genes que ela usou. no caso seres humanos. Ela não se sentia bem harmonizando fora da espécie que eram todas fêmeas. Até que passou a fazê-lo com ELE... Isso a deixou muito mal, porque quando ela precisava não tinha coragem de pedir, e quando pedia ELE se negava por motivos bobos. Já que ele fazia com todas que aparecessem na frente. Quando eu saí da bolha minha querida amiga estava 30 cm menor, e tinha a pele quebrada como os répteis antes de mudar a pele. Eu me senti mal.... E ainda sinto. Mas eu não podia fazer nada por ela...


Existia também entre os elfos 
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